sábado, 7 de maio de 2011

A Teodicéia de Tolkien- O Problema do Mal na Terra-Média

Primeiramente, é bom que se tenha em mente, o que Eru Ilúvatar fez ao deixar Melkor entrar em Eä foi permitir que ele fizesse na prática o que já havia feito em conceptualização metafísica "profética" dada inclusive como "Visão" onde o "ensaio" que era a Música era visto como um "filme" pré-visão. A coisa já era parte da Criação tal como tinha sido planejada e executada no Terceiro Tema.

Por que é que ele consentiu com isso? Opinião minha já postada em tópico anterior que, justamente, já lidou com esse tema antes que, no fim das contas, é a Teodicéia, o Problema do Mal que intriga os maiores teólogos do Cristianismo.

Ilmarinen;1973760]Não, não está falando merda não. Você está explicando em palavras de leigo um problema complicadíssimo que se chama o Problema do Mal em Teologia, que está ligado com a questão do Livre-Arbítrio e da Providência Divina.

http://en.wikipedia.org/wiki/Problem_of_evil

Tem um excelente texto do Ricardo Medeiros [url=http://de-vagaesemhybrazil.blogspot.com/2008/09/livre-arbtrio-e-prescincia-divina-soluo.html]Livre-Arbítrio e Presciência Divina a Solução dos Medievais[/url] que lida de forma sucinta e clara com essas questões, mas, basicamente, implica em ver o demônio como um Mal necessário para que a Criação possa ter lugar.

A corrupção do Mundo vem do livre-arbítrio do Demônio, coartar o Livre-Arbítrio do demônio que influencia negativamente a de outros seres criados, tornaria o exercício do mesmo sem valor e tenderia a transformar outros seres em possíveis candidatos pra fazer a mesma coisa, por si próprios e sem influência externa , o que seria pior.

Aniquilar um ente criado, por desobecer e usar o livre-arbítrio, abriria um péssimo precedente, porque daria a impressão de que o dilema seria a posse da vontade própria ( haja vista que muita gente acha que o problema seria que Deus não admite tal coisa mesmo vendo os resultados negativos diante dos próprios olhos) quando, de fato, o conflito resulta do fato de que a vontade própria aí está sendo usada pra auto-exaltação e não pro bem estar dos demais entes criados.

A melhor forma de mostrar essa diferença não é ensiná-la ( caso o Anjo Mau fosse destruído e fosse contada uma história dizendo pros criados o que teria acontecido), mas, sim, mostrar aos seres criados a distinção entre uma coisa e outra "deixando" que o Mal aconteça pra que a "lição", verdadeira e não hipotética, tenha valor real. Por isso, Deus permitiria a existência do Mal, porque eliminá-lo pela Força seria o mesmo que neutralizar a existência do livre-arbítrio.

Já ouviu a noção de que, do ponto de vista fundamental, matar um ser humano é eliminar tudo o que é humano também? O mesmo se aplicaria ao livre-arbítrio de um ser criado.Claro, que nessa conclusão não está presente só logica mas , também, uma questão de Fé.
. Quem quiser conferir um caso onde a aniquilação de um ser criado com livre-arbítrio acaba por desencadear um mal ainda maior depois e gera o problema referido nesse meu post transcrito acima pode dar uma checada em [url=http://www.bigorna.net/index.php?secao=comics&id=1173763807] Mistérios Divinos a adaptação gráfica em comic book do conto de Neil Gaiman[/url] , publicado em Fumaça e Espelhos, onde o autor , inclusive, homenageia o Silmarillion e a Teodicéia de Tolkien de forma estupenda e sensível contando uma história ilustrando a problemática do Livre-Arbítrio x Predestinação e Origens do mal.

[img]http://www.comicsreview.co.uk/nowreadthis/wp-content/uploads/2007/11/neil-gaimans-murder-mysteries.jpg[/img]

Espero que tenha ajudado :-)


Só um pequeno lembrete:definir como e porque os argumentos pertinentes à Teodicéia se aplicam a Melkor e Eru, nesse caso, não é off-topic, é parte integrante da pergunta , mesmo que nesse item em particular alguém possa não ter dúvidas é até natural que algumas pessoas não tenham acompanhado discussões prévias onde isso veio à tona.

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